sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

STILLE NACHT - NOITE FELIZ

Oberndorf, pequena aldeia austríaca à beira do rio Salzbach, região de Salzburg, véspera do Natal de 1818.

O Pe. Mohr
O vigário,  padre Joseph Mohr (1792-1848) estava desesperado porque o órgão da capela, dedicada a São Nicolau, havia quebrado e a  cantata de Natal seria um fiasco, logo em seu primeiro Natal naquela paróquia. Pediu orientação a Deus e se lembrou que dois anos antes havia escrito um poema simples, também na véspera de Natal, após uma caminhada pelos bosques das montanhas.

Gruber
Encontrou o manuscrito do poema em uma gaveta da sacristia. Correu para a casa de um professor e músico, chamado Franz Gruber e lhe perguntou se poderia musicar sua letra para que todos a pudessem cantar logo mais à noite, na missa do Galo. Franz olhou e disse que sim, porque a letra era simples e permitiria uma melodia fácil. Mas teria de ser tocada no violão porque não haveria tempo para algo mais elaborado - isso não era   problema porque não havia órgão disponível.

O padre Mohr agradeceu e correu de volta para terminar de organizar os detalhes da missa.

À noite, Franz Gruber chegou na capela com o violão e reuniu o coral para ensinar o hino improvisado. A música era o Stille Nacht (Noite Silenciosa, no original em alemão), que foi traduzida para o português como Noite Feliz.

Naquela noite de Natal de 1818, os participantes da missa da capela de Oberndorf cantaram maravilhados aquele hino tão singelo e profundo que viria a se tornar a canção natalina mais conhecida do mundo, sendo hoje cantada em cerca de 150 idiomas, com muitas versões. Podemos ver aqui uma versão em alemão cantada pelo Coro Infantil de Viena (Wiener Sängerknaben) e em português, cantada pelos Canarinhos de Petrópolis.

Semanas depois, o técnico que veio consertar o órgão ouviu a história e pediu para tocar a música.

Ficou impressionado com a riqueza melódica da composição que decidiu difundi-la por todas as igrejas por onde passava, chegando até aos  ouvidos do Rei da Prússia, Friedrich
Wilhelm IV e aos dos milhares de alemães que emigravam naquela época e que difundiram a canção pelo mundo - chegou a Nova Iorque em 1838 e a outros países logo em seguida.  

Está é a história do hino natalino Noite Feliz. O que começou como um momento de pânico e perspectiva de um fiasco, terminou como um eterno presente de Natal para toda a Humanidade em forma de música.

Feliz Natal a todos.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SÃO ROQUE - UMA VIDA CURTA, MAS INTENSA

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Existe em nossa cidade uma igreja  dedicada a São Roque; ela também é conhecida como Igreja do Cruzeiro, e pode ser avistada desde nosso Santuário. A primeira missa foi celebrada ali em 1981, tendo sido elevada a paróquia em 2001.

Mas quem foi São Roque? Não existem grandes certezas sobre sua vida, permanecendo a maior partes dos seus dados biográficos envolvidos em mistério. Até o seu verdadeiro nome é desconhecido, já que Roch (aportuguesado para Roque) seria o seu nome de família e não seu nome de batismo. Teria nascido na cidade de Montpellier, na França, por volta de 1350 e falecido na mesma cidade por volta de 1379. 

Era filho de uma família rica, e teria  nascido com um sinal em forma de cruz avermelhada na pele do peito; perdeu os pais muito cedo, tendo sido educado por um tio e estudado medicina em sua cidade natal, sem concluir seus estudos.  

Dedicando-se desde cedo à caridade, por volta dos 20 anos distribuiu seus bens aos pobres, deixando uma pequena parte com o tio e partiu em peregrinação para Roma.

No decorrer da viagem, ao chegar à cidade de Acquapendente, próxima de Viterbo, já na Itália,  encontrou-a assolada pela peste (aparentemente a grande epidemia da Peste Negra de 1348). De imediato ofereceu-se como voluntário para assistência aos doentes. Em seguida visitou muitas outras cidades e aldeias - onde surgia um foco de peste, lá estava Roque ajudando e curando os doentes.

Depois de visitar Roma (período que alguns biógrafos situam entre 1368 a 1371), onde rezava diariamente sobre o túmulo de São Pedro e onde também curou vítimas da peste, na viagem de volta para Montpellier, ao chegar a Piacenza, foi ele próprio contagiado pela doença. Para não contagiar alguém, isolou-se na floresta próxima daquela cidade, onde, diz a lenda, teria morrido de fome se um cão não lhe trouxesse diariamente um pão e se da terra não tivesse nascido uma fonte de água com a qual matava a sede. O cão pertenceria a um  homem muito rico, mas de má vida,  Gottardo Palastrelli, que apercebendo-se  da presença de Roque, o teria ajudado, sendo por ele convertido.

Curado, regressou a Montpellier, mas logo foi preso e levado diante do governador, que alguns biógrafos afirmam seria um seu tio materno, que não o reconheceu. Roque foi considerado um espião e passou alguns anos numa prisão (alguns biógrafos dizem ter sido 5 anos) até morrer, abandonado e esquecido por todos, só sendo reconhecido depois de morto, pela cruz que tinha marcada no peito.

Outra versão situa o local da prisão em Angera, próximo do Lago Maggiore, afirmando que teria sido mandado prender pelo duque de Milão sob a acusação de ser espião  do Papa e morrido prisioneiro ali.  Embora não haja consenso sobre o local, parece certo que ele morreu na prisão, depois de um longo período de encarceramento.

Descoberta a cruz no peito, foi reconhecido, e a fama da sua santidade rapidamente se espalhou por todo o sul de França e pelo norte da Itália, sendo-lhe atribuídos numerosos milagres. Passou a ser invocado em casos de epidemia, popularizando-se como  protetor contra a peste. O primeiro milagre póstumo que lhe é atribuído foi a cura do seu carcereiro, que se chamaria Justino e coxeava. Ao tocar com a perna no corpo de Roque, para verificar se estaria realmente morto, o carcereiro foi milagrosamente curado.

São Roque é geralmente representado em trajes de peregrino, por vezes com a vieira (concha) típica dos peregrinos de Santiago de Compostela, e com um longo bordão do qual pende uma cabaça. Uma das pernas é geralmente mostrada desnudada, sendo aí visível uma ferida gerada pela peste. Por vezes é acompanhado por um cão, que aparece a seu lado trazendo-lhe um pão.

Embora sem provas, afirma-se que Roque teria pertencido à Ordem Terceira de São Francisco. É lembrado no dia 16 de agosto.



domingo, 2 de dezembro de 2018

A QUESTÃO RELIGIOSA: UM TRISTE EPISÓDIO

O relacionamento muito próximo entre a Igreja e o Estado quase sempre traz problemas sérios, como nos mostra a história do frade capuchinho  Vital Maria Gonçalves de Oliveira 1844-1878), que foi o 20º bispo de Olinda e que está em  processo de Beatificação e Canonização, tendo por isso recebido o título de Servo de Deus.

Batizado Antônio Gonçalves de Oliveira Júnior, nasceu no Sítio Jaqueira do Engenho Aurora, na época território do Estado de Pernambuco e foi ordenado em  2 de agosto de 1868, aos 23 anos; em 1871    foi designado por Dom Pedro II para ser bispo de Olinda - tinha 26 anos! E o mundo era diferente: era o Imperador quem designava os bispos e tinha sobre eles autoridade em alguns assuntos!   Foi sagrado bispo em 17 de março de 1872.

Naquela época, desenrolava-se em nosso país a "Questão Religiosa", um conflito que, tendo se iniciado como um enfrentamento entre a Igreja Católica e a Maçonaria, acabou se tornando uma grave questão política.

Nesse contexto, o bispo desobedeceu ordens do Imperador que envolviam a gestão de irmandades e ordens religiosas. Foi por isso preso em 1875, por ordens do Visconde do Rio Branco, maçom. Foram prendê-lo em sua casa, um juiz, o chefe de polícia e um coronel da polícia. Quando o juiz entrou no palácio e bateu na porta do quarto do bispo, este saiu totalmente paramentado, com mitra e báculo, e assim foi preso. 

Mas quando chegaram à rua, os policiais viram que a multidão dava vivas ao bispo e ficaram com medo. Meteram-se num carro e levaram-no para o Arsenal de Marinha onde ficou preso à espera do navio que devia levá-lo ao Rio. 

Em Salvador, trocaram-no de navio para que chegasse ao Rio sem ser esperado. E no Rio foi logo encarcerado no Arsenal, embora com todo o respeito e conforto. Deve-se dizer que, em toda parte, no Recife, em Salvador, no Rio, multiplicavam-se as demonstrações de apreço, homenagem e protestos de outros bispos, do clero e do povo.

O Papa protestou e escreveu ao Imperador do Brasil pedindo que o libertasse e aos demais envolvidos, inclusive o Bispo do Pará, Dom Antonio de Macedo Costa (foto ao lado), que também se encontrava preso e como D. Vital fora condenado a 4 anos de trabalhos forçados; este, havia sido ordenado aos 27 anos e sagrado bispo aos 30! 

O imperador parece não ter dado muita importância à carta do papa, que afirmara "que o único crime de Dom Vital foi ter defendido a religião", mas o Duque de Caxias propôs ao imperador uma anistia. O imperador hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do Visconde do Rio Branco e o
Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo; ele aceitou com a condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o imperador teve que aceitar e, em 17 de setembro de 1875, decreta a anistia que liberta D. Vital e os demais presos. Logo em outubro D. Vital vai a Roma onde é recebido paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, cuja foto está ao lado, comovido, só o chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda")

Regressou à Diocese em 6 de outubro de 1876 e foi recebido triunfalmente. Iniciou, com entusiasmo, suas atividades pastorais. No entanto, adoeceu e embarcou para a Europa, em busca de tratamento. Escreveu ao Papa, renunciando à Diocese, sem resultado. A medicina não conseguiu descobrir a enfermidade, que provocava misteriosos sintomas.

Dom Vital morreu em Paris, a 4 de julho de 1878. Ao receber o Viático, diz: “Perdoo de coração aos meus inimigos e ofereço a Deus o sacrifício da minha vida”. Monsenhor de Ségur, na oração fúnebre, por ocasião das exéquias, afirmou que Dom Vital morreu envenenado. Assim terminou esse triste episódio. 

Foi sepultado na Basílica Menor de Nossa Senhora da Penha (foto ao lado), no Recife, em cuja Arquidiocese foi aberto o Processo de Beatificação e Canonização de Dom Frei Vital. Os trabalhos foram concluídos em 04 de julho de 2001 e a documentação foi remetida à Santa Sé. No ano de 2012 o arcebispo Dom Antônio Fernando Saburido, OSB, entregou a condução do Processo aos frades capuchinhos, irmãos de hábito do Servo de Deus. O Postulador é o Frei Carlo Calloni (Postulador Geral dos Capuchinhos) e o Vice-Postulador é Frei Jociel Gomes. No momento, a causa encontra-se em trâmite na Congregação da Causa dos Santos. Vale a pena visitar o site oficial da Causa.