O relacionamento muito próximo entre a Igreja e o Estado quase sempre traz problemas sérios, como nos mostra a história do frade capuchinho Vital Maria Gonçalves de Oliveira 1844-1878), que foi o 20º bispo de Olinda e que está em processo de Beatificação e Canonização, tendo por isso recebido o título de Servo de Deus.
Batizado Antônio Gonçalves de Oliveira Júnior, nasceu no Sítio Jaqueira do Engenho Aurora, na época território do Estado de Pernambuco e foi ordenado em 2 de agosto de 1868, aos 23 anos; em 1871 foi designado por Dom Pedro II para ser bispo de Olinda - tinha 26 anos! E o mundo era diferente: era o Imperador quem designava os bispos e tinha sobre eles autoridade em alguns assuntos! Foi sagrado bispo em 17 de março de 1872.
Naquela época, desenrolava-se em nosso país a "Questão Religiosa", um conflito que, tendo se iniciado como um enfrentamento entre a Igreja Católica e a Maçonaria, acabou se tornando uma grave questão política.
Nesse contexto, o bispo desobedeceu ordens do Imperador que envolviam a gestão de irmandades e ordens religiosas. Foi por isso preso em 1875, por ordens do Visconde do Rio Branco, maçom. Foram prendê-lo em sua casa, um juiz, o chefe de polícia e um coronel da polícia. Quando o juiz entrou no palácio e bateu na porta do quarto do bispo, este saiu totalmente paramentado, com mitra e báculo, e assim foi preso.
Mas quando chegaram à rua, os policiais viram que a multidão dava vivas ao bispo e ficaram com medo. Meteram-se num carro e levaram-no para o Arsenal de Marinha onde ficou preso à espera do navio que devia levá-lo ao Rio.
Em Salvador, trocaram-no de navio para que chegasse ao Rio sem ser esperado. E no Rio foi logo encarcerado no Arsenal, embora com todo o respeito e conforto. Deve-se dizer que, em toda parte, no Recife, em Salvador, no Rio, multiplicavam-se as demonstrações de apreço, homenagem e protestos de outros bispos, do clero e do povo.
O Papa protestou e escreveu ao Imperador do Brasil pedindo que o libertasse e aos demais envolvidos, inclusive o Bispo do Pará, Dom Antonio de Macedo Costa (foto ao lado), que também se encontrava preso e como D. Vital fora condenado a 4 anos de trabalhos forçados; este, havia sido ordenado aos 27 anos e sagrado bispo aos 30!
O imperador parece não ter dado muita importância à carta do papa, que afirmara "que o único crime de Dom Vital foi ter defendido a religião", mas o Duque de Caxias propôs ao imperador uma anistia. O imperador hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do Visconde do Rio Branco e o
Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo; ele aceitou com a condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o imperador teve que aceitar e, em 17 de setembro de 1875, decreta a anistia que liberta D. Vital e os demais presos. Logo em outubro D. Vital vai a Roma onde é recebido paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, cuja foto está ao lado, comovido, só o chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda")
Regressou à Diocese em 6 de outubro de 1876 e foi recebido triunfalmente. Iniciou, com entusiasmo, suas atividades pastorais. No entanto, adoeceu e embarcou para a Europa, em busca de tratamento. Escreveu ao Papa, renunciando à Diocese, sem resultado. A medicina não conseguiu descobrir a enfermidade, que provocava misteriosos sintomas.
Dom Vital morreu em Paris, a 4 de julho de 1878. Ao receber o Viático, diz: “Perdoo de coração aos meus inimigos e ofereço a Deus o sacrifício da minha vida”. Monsenhor de Ségur, na oração fúnebre, por ocasião das exéquias, afirmou que Dom Vital morreu envenenado. Assim terminou esse triste episódio.
Foi sepultado na Basílica Menor de Nossa Senhora da Penha (foto ao lado), no Recife, em cuja Arquidiocese foi aberto o Processo de Beatificação e Canonização de Dom Frei Vital. Os trabalhos foram concluídos em 04 de julho de 2001 e a documentação foi remetida à Santa Sé. No ano de 2012 o arcebispo Dom Antônio Fernando Saburido, OSB, entregou a condução do Processo aos frades capuchinhos, irmãos de hábito do Servo de Deus. O Postulador é o Frei Carlo Calloni (Postulador Geral dos Capuchinhos) e o Vice-Postulador é Frei Jociel Gomes. No momento, a causa encontra-se em trâmite na Congregação da Causa dos Santos. Vale a pena visitar o site oficial da Causa.
O imperador parece não ter dado muita importância à carta do papa, que afirmara "que o único crime de Dom Vital foi ter defendido a religião", mas o Duque de Caxias propôs ao imperador uma anistia. O imperador hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do Visconde do Rio Branco e o
Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo; ele aceitou com a condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o imperador teve que aceitar e, em 17 de setembro de 1875, decreta a anistia que liberta D. Vital e os demais presos. Logo em outubro D. Vital vai a Roma onde é recebido paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, cuja foto está ao lado, comovido, só o chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda")
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