domingo, 31 de março de 2019

O RÓSEO NA LITURGIA

Muitos podem ter estranhado o fato de o Padre Alberto e o Diácono Nivaldo vestirem paramentos róseos no último domingo, por estarmos em plena Quaresma. 

Mas há uma explicação: a  cor das vestimentas  têm séculos de tradição; há um profundo significado nessa cor - que a liturgia chama de "róseo". 

O róseo, usado somente duas vezes em todo o ano litúrgico, associa-se tradicionalmente a um sentido de alegria em um período de penitência. 

Em ambos os domingos (“Gaudete”, 3º do Advento e “Lætare, 4º da Quaresma), o róseo é usado para nos recordar que a temporada de preparação está chegando ao fim e a grande festa está próxima - no Advento preparamo-nos para o Natal; na Quaresma, para a Páscoa, as duas maiores datas da cristandade.


O Padre Romano Guardini (1885-1968), um célebre liturgista e místico que nasceu na Itália mas viveu e trabalhou toda a sua vida na Alemanha, explica-nos que o róseo nesses domingos simboliza os primeiros raios de luz que despontam no céu após as trevas da noite.  

Esses primeiros raios são, como dizia São Cirilo de Jerusalém: fine diei aurora - aurora de um dia sem fim! São Cirilo, que nasceu em 315, foi bispo de Jerusalém e em 1883 declarado Doutor da Igreja pelo papa Leão XIII.

terça-feira, 26 de março de 2019

EM 30 DE MARÇO, CELEBRAMOS SÃO JOÃO CLÍMACO


O Monte Sinai está historicamente ligado ao cristianismo. Foi onde Deus  entregou a Moisés as tábuas gravadas com os Dez Mandamentos. É uma área rochosa e árida que, não só pela sua geografia, mas também pelo significado histórico, foi escolhida pelos cristãos que procuravam a solidão da vida eremítica.

Assim, já no século IV, depois das perseguições romanas, vários mosteiros rudimentares foram ali construídos por monges que se entregavam à vida de oração e contemplação. Esses mosteiros tornaram-se famosos pela hospitalidade para com os peregrinos e pelas bibliotecas que continham manuscritos preciosos. Foi neste ambiente que viveu e atuou o maior dos monges do Monte Sinai, João Clímaco.

João nasceu na Síria, por volta do ano 579. De grande inteligência, formação literária e religiosa, ainda muito jovem, aos dezesseis anos, optou pelo deserto e viajou para o Monte Sinai, tornando-se discípulo num dos mais renomados mosteiros, do venerável ancião Raiuthi. 

Isso aconteceu depois de renunciar à fortuna da família e a uma posição social promissora. Preferiu um cotidiano feito de oração, jejum, trabalho duro e estudos profundos. Só descia ao vale para recolher frutas e raízes para sua parca refeição e só se reunia aos demais monges nos fins de semana, para um culto coletivo.

Sua fama se espalhou e muitos peregrinos iam procurá-lo para aprender com seus ensinamentos e conselhos. Inicialmente eram apenas os que desejavam seguir a vida monástica, depois eram os fiéis que queriam uma benção do monge, já tido em vida como santo. Aos sessenta anos João foi eleito por unanimidade abade geral de todos os eremitas da serra do Monte Sinai.

Nesse período ele escreveu muito e o que dele se conserva até hoje é um livro importantíssimo que teve ampla divulgação na Idade Média, "Escada do Paraíso". Livro que lhe trouxe também o sobrenome Clímaco que, em grego, significa "aquele da escada". No seu livro ele estabeleceu trinta degraus a subir para alcançar a perfeição da alma.


Trata-se de um verdadeiro manual, a síntese da doutrina monástica e ascética, para os noviços e monges, onde descreveu, degrau por degrau, todas as dificuldades a serem vividas, a superação da razão e dos sentidos, e que as alegrias do Paraíso serão colhidas no final dessa escalada, após a ida para a eternidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A imagem ao lado reproduz um ícone do século XII retratando São João no alto da "Escada do Paraíso", seguido por outros monges, alguns tentados pelo demônio e caindo. Esse ícone está no mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai.   

João Clímaco morreu no dia 30 de março de 649, amado e venerado por todos os cristãos do mundo oriental e ocidental, sendo celebrado por todos eles no mesmo dia de sua morte.

sábado, 16 de março de 2019

O CLERGYMAN - UMA VESTIMENTA ATUAL

Até o Concílio Vaticano II, no início dos anos 1960, os padres não podiam usar outras roupas que não a batina.


O Concílio autorizou-os a utilizarem o "clergyman", uma  camisa que incorpora o colarinho clerical que foi criado em 1855 pelo Reverendo Dr. Donald MacLeod (foto ao lado), pastor anglicano que vivia na Escócia - os sacerdotes anglicanos usavam apenas a batina, como os católicos; a ideia era ter um traje mais prático que a batina para os trabalhos do dia a dia. Note-se que as batinas já utilizavam o colarinho clerical, chamado entre nós de colarinho romano.

Hoje é utilizado também por pastores protestantes de diversas denominações. Entre os católicos, os primeiros a usá-los foram os jesuítas - a foto à esquerda mostra o Papa, jesuíta, usando o traje antes de sua eleição. 


No passado, um aro de metal era colocado ao redor do pescoço dos escravos - na atualidade, o colarinho branco que compõe o traje simboliza que aqueles que o usam tem um compromisso com Deus, especialmente o compromisso pastoral com o anúncio do Evangelho.

domingo, 10 de março de 2019

OS SALMOS

Os Salmos compõem um livro do Antigo Testamento, sendo o primeiro a falar claramente   do Messias (Cristo), de seu reinado e do Juízo Final. É o maior livro de toda a Bíblia;  os salmos são 150 e em nossas missas sempre há a leitura de um deles.

Os salmos são utilizados não apenas nos rituais do Cristianismo, mas também nos do Judaísmo e do Islamismo - o Alcorão, no cap. 17, verso 82, menciona os salmos como "um bálsamo". Tal fato não tem paralelo na vida religiosa; cristãos, judeus e muçulmanos acreditam que os salmos foram escritos em hebraico e posteriormente traduzidos para o grego, para o latim e para outros idiomas - São Jerônimo traduziu-os do grego para o latim, introduzindo seu uso na Igreja Católica - já falamos desse santo em outro post

Acredita-se também que eles foram escritos entre os anos de 1440  e 500 antes de Cristo, período em que ocorreu a saída dos judeus do Egito e seu cativeiro na Babilônia.  A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao Rei Davi, o qual teria escrito pelo menos 73 deles. O Rei Salomão e Moisés  escreveram outros, havendo diversos cujo autor é desconhecido.  

domingo, 3 de março de 2019

MÃES QUE ORAM PELOS FILHOS - TERÇO DAS MÃES

Surgem, às vezes, na Igreja, certamente inspirados por Deus, movimentos e grupos especialmente dedicados à oração e ao bem do próximo.


Assim surgiu o movimento “Mães que oram pelos filhos”, fundado em 2011 na Arquidiocese de Vitória, e que vem se espalhando pelo país. A CNBB recomenda vivamente a expansão desse movimento em todas as Paróquias e Igrejas.

O movimento lembra Santa Mônica, mãe que orou por seu filho Agostinho e conseguiu a sua conversão. Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na região de Cartago, na África, filho de Patrício, pagão, e Mônica, cristã fervorosa. Segundo narra ele próprio, Agostinho bebeu o amor de Jesus com o leite de sua mãe. Mas afastou-se dos ensinamentos da mãe e, por causa de más companhias, entregou-se aos vícios. Cometeu maldades, viveu no pecado durante sua juventude, teve uma amante e um filho, e, pior, caiu na heresia maniqueísta, crença surgida na Pérsia.

Sua mãe, Santa Mônica, rezava e chorava por ele todos os dias. “Fica tranquila”, disse-lhe certa vez um bispo, “é impossível que pereça um filho de tantas lágrimas!” E foi sua oração e suas lágrimas que conseguiram a volta para Deus desse filho querido transviado.

Nas suas “Confissões”, Agostinho relata a sua vida de pecador arrependido. Transferiu-se com sua mãe para Milão, na Itália. Levado pela mãe a ouvir os célebres sermões de Santo Ambrósio e nutrido com a leitura da Sagrada Escritura e da vida dos santos, Agostinho converteu-se realmente, recebeu o Batismo aos 33 anos e dedicou-se a uma vida de estudos e oração. Ordenado sacerdote e bispo, além de pastor dedicado e zeloso, foi intelectual brilhantíssimo, dos maiores gênios já produzidos em dois mil anos da História da Igreja. É Santo e Doutor da Igreja. Sua vida demonstra o poder da graça de Deus que vence o pecado e sempre, como Pai, espera a volta do filho pródigo.

Sua mãe, Santa Mônica, é o exemplo da mulher forte, de oração poderosa, que rezou a vida toda pela conversão do seu filho, o que conseguiu de maneira admirável. Exemplo para todas as mães que, mesmo tendo ensinado o bom caminho aos seus filhos, os vêm desviados nas sendas do mal. A oração e as lágrimas de uma mãe são eficazes diante de Deus. E a vida de Santo Agostinho é uma lição para nunca desesperarmos da conversão de ninguém, por mais pecador que seja, e para sempre estarmos sinceramente à procura da verdade e do bem.

Em nosso Santuário o movimento foi implantado em 2018. As mães reúnem-se às quartas-feiras, às 20 horas, no Santuário. Estão convidadas não apenas as mães, mas todas as mulheres. A foto abaixo mostra as componentes do grupo.


UM POUCO SOBRE A QUARESMA


A expressão Quaresma é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia) e compreende os 40 dias que antecedem a Páscoa. É observada  não apenas por nossa Igreja mas também por outros cristãos, como os   ortodoxos, anglicanos e luteranos. 

O número 40 aparece com frequência na Bíblia: 40 dias duraram as chuvas do dilúvio e a estada de Moisés no Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos. Jesus  foi  levado ao templo quando tinha 40 dias e  retirou-se para o deserto por 40 dias antes de iniciar sua vida pública. Foi esse o tempo em que Ele permaneceu entre seus discípulos após ressuscitar.

O Tempo da Quaresma tem seis domingos; o sexto é o Domingo de Ramos, que marca a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento - nessa ocasião, o povo lançou seus mantos e  ramos à sua frente,  como forma de homenageá-lo.  

A Quaresma  é um tempo de recolhimento, para que possamos rever a nossa vida, rever até que ponto atendemos àquilo que Nosso Senhor nos pede. 

Ela serve para analisarmos se estamos verdadeiramente amando a Deus sobre todas as coisas ou se outras coisas estão dominando o nosso coração. É um tempo de balanço geral em nossa vida, de pararmos, silenciarmos e refletirmos. Na Quaresma, a cor litúrgica predominante é o roxo, nos remetendo a uma profunda interiorização, num tempo de penitência e conversão, de jejum e oração. 

A Rádio Vaticano traz a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano com o tema “Vamos subir a Jerusalém. Quaresma: tempo para renovar fé, esperança e caridade”, que pode ser ouvida aqui.