Pretendemos estudar o livro de Jó de forma semelhante à que fizemos durante o Advento com o Evangelho de Lucas: as pessoas que tem acesso às publicações deste blog receberão diariamente, a partir do dia 6 de janeiro, um capítulo do livro de Jó.
O Livro de Jó é um dos livros do Velho Testamento, com um grande conteúdo teológico e literário, a ponto de o grande poeta inglês do século XIX, Alfred Tennyson, tê-lo chamado de "o maior poema de todos os tempos". A obra é constituída por um prólogo e um epílogo em prosa emoldurando diálogos e monólogos em versos, num total de 42 capítulos.
Jó vivia em Hus, na Arábia; era justo e temente a Deus. Muito rico, tinha 7 filhos e 3 filhas; possuía grandes rebanhos de ovelhas, camelos, bois e jumentos. Deus experimentou-o, permitindo a Satanás que lhe fizesse muito mal: um dia, chegou um mensageiro e disse a Jó: "andavam os bois a lavrar e a jumentas a pastar junto deles e eis que surgiram os sabeus e os levaram. Passaram à espada os criados. Só escapei eu para vos trazer esta notícia".
Falava ainda quando chegou outro mensageiro que disse: "os caldeus lançaram-se sobre os camelos, levaram-nos e trucidaram todos os criados. Só escapei eu para vos trazer esta notícia".
Enquanto este falava, entrou outro mensageiro dizendo: "os vossos filhos e filhas estavam a comer e beber em casa do irmão mais velho. De repente desencadeou-se um violento vendaval vindo do deserto. Sacudida de todos os lados, a casa desabou sobre eles e esmagou a todos. Só eu escapei para vos anunciar esta triste notícia".
Então Jó levantou-se, rasgou as vestes e raspou a cabeça, e prostrando-se por terra adorou o Senhor, dizendo: "o Senhor deu, o Senhor tirou. Como foi do agrado do Senhor, assim se sucedeu. Bendito seja o nome do Senhor!"
Jó e seus amigos - pintura de Julius Von Carosfeld (1860) |
Mas os sofrimentos de Jó continuaram: contraiu lepra, que o cobriu de feridas dos pés até ao alto da cabeça. E Jó tirava o pus de suas úlceras com um pedaço de telha. Dizia-lhe a mulher: " ainda estás firme na tua piedade?". Ele respondia: "falas como mulher insensata. Se recebemos os bens da mão de Deus, por que não receberemos também os males?".
Alguns amigos de Jó afirmaram que Deus o castigava por causa dos seus pecados. Mas Jó disse: "ainda que Deus me matasse, confiaria sempre nele. Eu sei que o meu Redentor vive e que no último dia ressurgirei da terra; serei novamente revestido do meu corpo e na minha carne verei o meu Deus. Sim, eu mesmo o verei e os meus olhos o hão de contemplá-lo. Esta esperança repousa no meu coração".
Dada a firmeza de Jó, Deus curou-o e deu a ele o dobro de tudo o que possuía anteriormente. Deu-lhe também sete filhas e três filhos; Jó viveu mais 140 anos e viu os filhos dos seus filhos até a quarta geração.
O livro foi escrito entre os séculos V e III antes de Cristo, que tinha por principal objetivo questionar a teologia da sua época, segundo a qual o sofrimento é consequência direta do pecado pessoal de quem sofre. Em geral pensava-se que a fidelidade a Deus era recompensada nesta vida com bens materiais e familiares, com a boa saúde e a vida longa, e, ao contrário, a infidelidade, punida com o insucesso e diversas desgraças na vida terrena.
À luz do Cristianismo, o livro convida-nos a lembrar que Deus é bom e que está presente no meio de nossos sofrimentos para superá-lo juntamente conosco e isso basta para que continuemos a acreditar na vida e para solidarizar-nos concretamente com os que sofrem, apesar de toda as dores a que possamos estar submetidos.
Ter fé em Deus é abrir-se à possibilidade de superar o sofrimento todas as vezes que ele aparece em nossa vida.