O tema das indulgências é um dos menos conhecidos entre nós católicos.
O Catecismo da Igreja (CIC) afirma que “pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, sequelas dos pecados” (CIC, §1498).
O Papa Paulo VI (canonizado em 2018) dizia que a doutrina e o uso das indulgências, vigentes na Igreja Católica há vários séculos, encontram sólido apoio na revelação divina, desenvolvendo-se na Igreja sob a assistência do Espírito Santo.
O site da CNBB traz texto de Dom Eurico Santos Veloso, à época Arcebispo de Juiz de Fora, tratando do assunto - o atual Arcebispo é Dom Gil Antonio Moreira, que já foi nosso bispo e esteve recentemente em nosso Santuário.
No texto, Dom Eurico nos diz que de acordo com o Manual das Indulgências aprovado pela Santa Sé e publicado em 1990 pela CNBB “indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos".
Ou seja, tendo o fiel se reconciliado pelo Sacramento da Penitência, em perfeita contrição, sem nenhum afeto ao pecado, e cumpridas as demais condições, o fiel recebe graças especiais (para si ou para irmãos que padecem no purgatório) para a remissão de algum “resquício do pecado”. Dom Eurico lembra ainda que "a indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados”.
Nos primeiros séculos da Igreja, as penitências eram muito severas: por exemplo, quem blasfemasse deveria ficar na porta da igreja durante a missa, por sete domingos; no último domingo deveria ficar no mesmo lugar sem capa e descalço - nas sete sextas-feiras precedentes, jejuava a pão e água, sem poder durante todo esse período entrar na igreja. Também era comum a auto flagelação.
Essas pesadas penitências, e outras até mais severas, tinham por objetivo extinguir no penitente os resquícios do pecado e as más inclinações que o pecado sempre deixa na alma do pecador.
Com o passar do tempo, num gesto de clemência, a Igreja abrandou essas práticas, substituindo-as por outras a como a recitação do Santo Rosário ou de orações diversas, jaculatórias, atos de piedade, peregrinações etc.
Infelizmente, a corrupção sempre buscou espaço no coração dos homens e no seio das instituições. E na Igreja não foi diferente, principalmente no período da Renascença (aproximadamente entre 1350 e 1550) em que houve forte influência da cultura pagã nas artes, em detrimento de tudo o que deveria conduzir à elevação da pessoa em seu todo.
Foi nesse ambiente que o papa Leão X, em 1514, estabeleceu que indulgências seriam concedidas aos fiéis vivos e àqueles que estão no Purgatório, explicitando que seriam concedidas a “qualquer cristão que recebesse os sacramentos e desse esmola”.
Isso levou a situações em que, membros da Igreja, atingidos pela corrupção, passassem a exigir dinheiro de fiéis para que estes recebessem indulgências, o que nunca foi condição para a obtenção das mesmas. Como dizia o célebre teólogo e monge beneditino dom Estevão Bettencourt, “quando a Igreja indulgenciava a prática de esmolas, não tencionava dizer que o dinheiro produz efeitos magníficos, mas queria apenas estimular a caridade ou as disposições íntimas do cristão para que conseguisse libertar-se das escórias remanescentes do pecado”.
De qualquer forma, a postura desses corruptos acabou sendo uma das causas do então monge agostiniano Martinho Lutero ter abandonado a Igreja, dando início ao protestantismo; Lutero também não aceitava alguns ensinamentos de nossa Igreja.
Na atualidade, para obter as indulgências, tanto plenárias como parciais, é preciso que, o fiel esteja em estado de graça, que tenha a disposição do completo afastamento do pecado, se confesse sacramentalmente, receba a Santíssima Eucaristia e cumpra as condições estabelecidas, como por exemplo adoração ao Santíssimo Sacramento, visitar cemitérios ou determinadas igrejas, fazer certas orações etc.