domingo, 31 de maio de 2020

EDITH STEIN: SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ

Edith Theresa Hedwig Stein nasceu em 1891 na cidade alemã de Breslau, hoje pertencente à Polônia; é chamada agora Wroclaw.

Nascida em uma família judia, foi deixando a religião a partir da adolescência, tendo se dedicado aos estudos e ao ensino, especialmente na área da filosofia, doutorando-se nessa área.  Durante a Primeira Guerra Mundial, juntou-se à Cruz Vermelha onde atuou como auxiliar de enfermagem em um hospital de doenças infecciosas.


Em uma noite de insônia,  no ano de 1921, passando férias em casa de amigos, procura um livro e encontra a obra de Santa Teresa de Jesus (Santa Teresa de Ávila, que coincidentemente também vinha de família judia), o "Livro da vida", que muito a impressionou; logo providencia um missal e um  catecismo que estuda  cuidadosamente.

Segue estudando, especialmente nossa religião, traduzindo para o alemão obras do cardeal John Henry Newman, de que já falamos em outro post.


Em 1934, ingressa no Carmelo, na cidade alemã de Colônia, adotando o nome de Teresa Benedita da Cruz. 

Ali  continuou escrevendo e estudando muito; dessa época é seu livro "Ser finito e ser eterno", uma obra sobre o homem e Deus.

No dia 21 de abril de 1935, domingo de Páscoa, faz seus votos   temporários, fazendo os definitivos em 1938, ano em que devido à perseguição dos nazistas às pessoas de origem judaica, foi transferida para o Carmelo holandês de Echt - ali aprendeu seu sétimo idioma, o holandês. Sempre estudando e escrevendo publica artigos sobre a história do Carmelo e seu livro mais importante, "A ciência da cruz"; a respeito do tema ela escreveu que "os que tem fé e confiança progridem, sustentam suas vidas e os que não tem fé não aceitam, se desesperam e se perdem".

Vários de seus parentes, irmãos, cunhada e sobrinha, foram mortos pelos nazistas em campos de concentração. Em 1942, ela e sua irmã Rosa, que também havia se convertido e estava com ela no Carmelo de Echt, foram presas pelos nazistas e levadas ao campo de concentração de Auschwitz, onde no dia 9 de agosto foram mortas em uma câmara de gás -  três dias antes de sua morte, tinha dito: “Aconteça o que acontecer, estou preparada. Jesus está aqui conosco”. 

No dia 1º de maio de 1987 foi  beatificada em Colônia por João Paulo II, e em 11 de outubro de 1998 foi canonizada pelo mesmo Papa, sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz.

Na pedra d'ara do Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, há uma relíquia de Santa Teresa, que nos foi doada pelo então Reitor, Padre Alberto Simionato, como já dissemos em outro post

quinta-feira, 28 de maio de 2020

BEATO CHARLES DE FOUCAULD - UM EXEMPLO DE VIDA CRISTÃ

Charles Eugène de Foucauld de Pontbriand nasceu em Strasbourg, França, em 1858. De uma família de aristocratas, perdeu os pais aos seis, anos, tendo sido criado por seu avô materno, que era militar. 

Tornou-se oficial do exército, passou a levar uma vida de pecado - tinha muito dinheiro disponível, pois recebera uma herança de seu avô. Foi transferido para a Argélia, que pertencia à França; aos 23 anos, resolveu explorar o norte da África; recebeu uma medalha concedida pela Sociedade Francesa de Geografia em reconhecimento pelos seus trabalhos. 

Mais tarde, uma prolongada reflexão sobre a vida espiritual conduziu-o à conversão em 1886, tornando-se membro da Ordem Trapista, pela qual viveu na França e na Síria. Deixou os trapistas em 1897, e foi ordenado em 1901.
Foucauld em 1907
Regressou à Argélia, passando a viver com o povo tuaregue, buscando evangelizá-lo não apenas com sermões, mas através de seu exemplo de vida.  

Estudou muito a cultura daquele povo, tendo  publicado o primeiro dicionário tuaregue-francês. Estudou o léxico e a gramática da língua tuaregue, além de seus cantos e tradições; seus trabalhos tornaram-se referência para o estudo da cultura desse povo.

Charles de Foucauld era bastante crítico com referência à colonização francesa no norte da África: denunciava a exploração do povo, bem como a falta de investimentos e de apoio ao desenvolvimento da região. Também criticava  a omissão das autoridades coloniais no combate à escravidão, que ainda existia na região; enfim, desenvolvia um intenso trabalho missionário

Foucauld, que vivia como eremita, foi assassinado por rebeldes em 1916. Logo foi considerado um mártir e, nos anos seguintes, sua memória passou a ser venerada.
Última foto de Foulcaud (1915)
Em 1933 foi fundada a Congregação dos Pequenos Irmãos de Jesus, cuja espiritualidade se inspira nos ensinamentos de Foucauld; seus membros fazem os votos de pobreza, castidade e obediência à Igreja, buscando trabalhar junto aos pobres e compartilhar suas  condições de vida.  

Um dos membros da Congregação foi Jacques Maritain, filósofo e pensador católico, amigo de Paulo VI,  que foi embaixador da França no Vaticano, e que já de idade avançada e viúvo ingressou na Congregação. 

Em 1939, a Irmã Madalena de Jesus fundou a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus de Carlos de Foucauld, inspirada no exemplo de vida de Foucauld; além dessas duas, mais oito congregações foram criadas baseadas em seu exemplo.

Seu processo de beatificação começou em 1927, tendo sido interrompido durante a guerra de independência da Argélia e posteriormente retomado; foi declarado venerável em  2001 pelo Papa João Paulo II e beatificado pelo Papa Bento XVI em  2005.

Há um excelente portal com mais detalhes acerca dessa figura maravilhosa: visite-o!

domingo, 24 de maio de 2020

NUESTRA SEÑORA DE COPACABANA - PADROEIRA DA BOLÍVIA

Encerrando o Mês de Maria, vamos lembrar mais uma invocação da Virgem:  Nuestra Señora de Copacabana  (Nossa Senhora de Copacabana) ou Virgen Candelaria de Copacabana, venerada na cidade de Copacabana, na Bolívia.

Padres dominicanos eram os responsáveis pela evangelização da região, desde 1539. O povo que ali vivia, descendente dos antigos incas, foi sendo convertido, tendo os dominicanos despertado nele uma forte devoção mariana.

O inca Tito Yupanki, morador do local, resolveu esculpir em argila uma imagem da Virgem, a ser colocada na pequena igreja que estava sendo construída. Tito porém  nada sabia sobre escultura e a imagem ficou muito feia; compadecido, o pároco colocou-a ao lado do altar, mas o pároco seguinte colocou-a em um canto da sacristia.

Tito (imagem ao lado) ficou muito triste, mas não desistiu: foi a Potosi, então uma cidade importante da Bolívia e ali tomou aulas de escultura,  produzindo finalmente uma bela estátua em madeira, que chegou a Copacabana em 1583.  Tito inspirou-se em uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, existente no Convento de São Domingos, em Potosi. 

A imagem tem cerca de um metro e trinta centímetros de altura e seus trajes relembram os usados pelas mulheres da nobreza inca.

Em 1925, o Papa Pio XI declarou-a "Rainha da Nação". É também a padroeira da Polícia e da Marinha bolivianas, que lhe deram os títulos de General e Almirante. 

Há uma tradição interessante: as pessoas que vão ao seu Santuário (foto ao lado), inaugurado em 1805, ao retirarem-se caminham de costas, pois entendem ser um desrespeito dar as costas à Virgem.  

O bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro deve seu nome a ela: dizem que no século XVII um  minerador boliviano voltava da Europa em um navio que começou a afundar; devoto da Virgem, ele e os demais que estavam a bordo pediram a ela que os  salvasse, o que aconteceu

Como agradecimento, construíram uma capela num lugar então chamado Sacopenapã onde mais tarde se entronizou uma imagem da Virgem, vinda da Copacabana boliviana - o local acabou se tornando a Copacabana carioca.  

sexta-feira, 22 de maio de 2020

EM 24 DE MAIO LEMBRAMOS NOSSA SENHORA AUXILIADORA

Esta invocação mariana remonta ao ano de 1571, quando Selim I, imperador dos turcos, depois de conquistar várias ilhas do Mediterrâneo, preparava-se para atacar o restante da Europa.
Para enfrentar essa ameaça,  o Papa São Pio V organizou uma  esquadra para tentar salvar os cristãos da iminente escravidão muçulmana; o comando dessa esquadra foi dado ao Príncipe   Dom João D’Áustria.
O Papa enviou ao Príncipe um estandarte bordado com a imagem de Jesus crucificado e a recomendação de que ele e seus homens pedissem a proteção e o auxílio de Nossa Senhora, pois o inimigo era superior em número.  
No dia 7 de outubro de 1571, invocando o nome de Maria, Auxílio dos Cristãos, os combatentes católicos travaram dura e decisiva batalha nas águas da região de Lepanto. Depois de horas de violentos combates quando, em vários momentos, a derrota parecia iminente, veio a vitória. Foi uma batalha terrível, com quase 500 navios envolvidos e cerca de 38 mil mortos.
Narram as crônicas dos derrotados que uma “formosa senhora” foi vista no céu e que seu olhar fulminante espalhava pânico entre eles e alimentava o ânimo e disposição  dos cristãos.
Quanto a D. João D'Áustria, morreu em 1578, aos 33 anos, não se sabe ao certo se de tifo ou de peste. Dentre os que combateram naquela ocasião, estava o escritor Miguel de Cervantes, autor do "Dom Quixote".  
Nossa Senhora Auxiliadora é comemorada em  24 de maio.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

A ASCENSÃO DO SENHOR E A CERTEZA DE SUA VOLTA

A Ascensão, comemorando a subida de Jesus aos céus, é uma solenidade litúrgica comum a todas as Igrejas cristãs,  e é celebrada 40 dias depois da Páscoa.

Ela aconteceu na 5ª feira, 21 de maio; em alguns países, como no Brasil, é comemorada no domingo seguinte, para permitir a participação de um maior número de fiéis.

Com a Ascensão conclui-se a presença de Cristo no contexto histórico. Retornando ao Pai, Jesus fecha um ciclo,   a sua existência humana, para voltar aos céus, mesmo permanecendo vivo e presente na Igreja. 

Já o lugar do cristão é o mundo, para anunciar a palavra de Jesus, para anunciar que fomos salvos, que Ele veio para nos dar a graça, para nos levar todos com Ele para diante do Pai”.  

Os Evangelhos falam pouco da Ascensão: Mateus e João terminam suas narrações com a aparição de Jesus depois da Ressurreição; Marcos dedica-lhe a última frase do texto, enquanto Lucas fala muito mais, principalmente nos Atos dos Apóstolos.
Nos Atos, Lucas detalha como Jesus conduz os apóstolos para Betânia e ao chegar ao Monte das Oliveiras (chamado por isso Monte da Ascensão) os abençoa e fala a todos antes de subir ao céu e retornar ao Pai.  
A celebração da Ascensão tem origens antigas e  é influenciada pela tradição judaica. Inicialmente  acontecia em Belém para evidenciar que tudo tinha começado ali e era unida à festa de Pentecostes, celebrada na tarde do mesmo dia - mais tarde, ao redor do século V, já eram datas separadas. 
Em Pentecostes, lembramos a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, sua mãe Maria e outros seguidores. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa, e ocorre no sétimo dia depois da  Ascensão. Em outro post já falamos de Pentecostes.

Ao final da Audiência Geral de 20 de maio, o Papa Francisco falou sobre a  Ascensão,  destacando que o ensinamento da palavra de  Cristo e seu anúncio na vida diária devem ser o ideal e o compromisso de cada um de nós.

domingo, 17 de maio de 2020

SÃO JOHN HENRY NEWMAN

Nosso Reitor, o Padre Alberto, citou recentemente em uma de suas homilias São John Henry Newman, acerca do qual falaremos neste post.


Nascido em Londres em 1821, estudou e posteriormente lecionou na Universidade de Oxford, uma das mais importantes do mundo; foi ordenado sacerdote da Igreja Anglicana, à qual serviu como vigário da importante igreja de St. Mary the Virgin (Santa Maria Virgem) de 1828 a 1843 - era a igreja da Universidade de Oxford.

Dotado de formação intelectual muito sólida, tornou-se um dos líderes do "Movimento de Oxford", composto por anglicanos que se preocupavam com a decadência espiritual de sua Igreja, laicizada e submetida ao controle do rei da Inglaterra, que podia, entre outras coisas, nomear e retirar bispos, criar e extinguir dioceses. Problemas análogos aconteciam em nosso país, como dissemos em outro post

Suas reflexões, levaram-no a converter-se à Igreja Católica, na qual foi ordenado em 1847. Newman  buscava um cristianismo autêntico e considerou o catolicismo mais fiel às origens do cristianismo; sua conversão provocou uma comoção na Inglaterra. 

Foi um processo difícil, dolorido, tendo dito a respeito que "como protestante, a minha religião parecia-me miserável, mas não a minha vida. E agora, como católico, a minha vida é miserável, mas não a minha religião" - Bento XVI complementa dizendo que "sua conversão ao catolicismo exigiu-lhe o abandono de quase tudo o que lhe era caro e precioso: os seus haveres e a sua profissão, o seu grau acadêmico, os laços familiares e muitos amigos".

Teve uma produção intelectual impressionante e extremamente importante para nossa Igreja: suas obras completas ocupam 37 volumes, falando sobre os mais variados assuntos — teologia, filosofia, literatura, história, espiritualidade, educação; escreveu cerca de setenta mil cartas! Foi um dos criadores e reitor da Universidade Católica da Irlanda.

Foi chamado "O Apóstolo da Amizade", tendo refletido, escrito e pregado muito acerca desse tema, dizendo, em resumo, que é importante cultivar a verdadeira amizade, inicialmente com nossos parentes e com aqueles que estão próximos, iniciando um processo que chegará   até à amizade com Deus.  

Considerava os leigos como um elemento-chave na formação da Igreja, tema que em sua época não era  considerado importante e que apenas muitas décadas depois passou a ser prioritário para a Igreja.  Sobre os leigos, afirmou "quero um laicato não arrogante nem polêmico, mas  que conheça  a própria religião...   que conheça  bem a própria história para  poder defende-la".

Faleceu em 1890. Foi feito cardeal pelo papa Leão XIII em 1879 (curiosamente sem ter sido sagrado bispo), beatificado em 2010 pelo Papa Bento XVI e canonizado pelo Papa Francisco em 2019.

Na cerimônia de sua canonização, realizada na praça de São Pedro, esteve presente uma grande delegação de anglicanos, liderada pelo Príncipe Charles - a foto ao lado mostra o Papa cumprimentando eclesiásticos anglicanos durante a cerimônia. 

Disse o primaz e líder espiritual da Igreja Anglicana, o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby: "vejo a canonização como um presente para todos os cristãos; o legado de São John Henry vai muito além de uma ou duas igrejas - é um legado global, um legado de esperança e verdade, da busca por Deus”.



  

DOM FULTON SHEEN FALA DE NOSSA SENHORA

Nosso reitor, o Padre Alberto Simionato, tem frequentemente citado Dom Fulton Sheen, um arcebispo americano que se destacou pelo seu trabalho de evangelização, usando o rádio a partir de 1930 e a TV posteriormente.

Nos primórdios da TV, as transmissões eram feitas ao vivo, sem edição e com poucos recursos técnicos, tendo ficado célebres os programas em que Dom Sheen, com o auxílio de giz e quadro negro, transmitia seus ensinamentos - muitos desses programas estão disponíveis no YouTube, em inglês - alguns legendados.

Podemos conhecer alguma coisa sobre a sua vida e obra visitando outro de nossos posts.  

Nesta publicação, trazemos um vídeo bastante curto, de cerca de 3 minutos, no qual Dom Sheen, usando sua oratória e senso de humor nos fala da importância de Nossa Senhora no processo de salvação das almas. Esse vídeo pode ser visto aqui.  

quinta-feira, 14 de maio de 2020

S. CARLOS BORROMEO E AS CRUZES DA PESTE EM MILÃO

A região de Milão, na Itália, foi atingida muito fortemente pela pandemia. Esta não foi a primeira vez que a área foi atingida por um mal como esse: na década de 1570, um forte surto de peste atingiu Milão e arredores, matando 30% da população.

Mais tarde, a epidemia foi batizada de “Praga de São Carlos”, lembrando São Carlos Borromeo, na época arcebispo de Milão e que desempenhou um papel muito importante no cuidado dos doentes e de suas famílias. Ao contrário das autoridades civis, o arcebispo não deixou a cidade, mas ficou para coordenar o combate à peste; chegou a doar suas roupas para o atendimento aos necessitados.

Como agora, São Carlos ordenou que as igrejas fossem fechadas por razões de saúde pública, mas  não descuidou da parte espiritual, tendo determinado a construção de altares ao ar livre, do lado de fora de cada igreja, de forma  que  os fiéis podiam acessar o altar sem colocar em risco sua saúde e a de outras pessoas.

Quando aquela peste chegou ao fim, esses altares foram removidos e as pessoas puderam voltar às igrejas, como esperamos que possa acontecer em breve. Mas, no lugar dos antigos altares externos, os cidadãos ergueram as chamadas “cruzes da peste”, como símbolo de gratidão pela ajuda de Deus durante aquele período.

Hoje, algu
mas das “cruzes da peste” ainda existem em cidades como Brugherio, localizada a 20 quilômetros de Milão. Fica na Piazza Roma, defronte à igreja; construída sobre uma base de pedra branca, a cruz de cobre têm gravadas inscrições em latim que atribuem o fim da praga à compaixão de Jesus.

Talvez, ao final da pandemia, pudéssemos deixar no Santuário um sinal de nossa gratidão a N. S. Aparecida pelos cuidados que tem tido conosco.

Vale lembrar que São Carlos   fundou seminários, construiu hospitais e destinou as riquezas de sua família ao serviço dos pobres. Defendeu os direitos da Igreja contra os poderosos e instituiu uma nova congregação de sacerdotes seculares, os Oblatos. Seu lema tinha uma única palavra: "Humilitas" -  humildade, que o impulsionou a renunciar a si mesmo para fazer-se servo de todos. É o padroeiro dos seminaristas e catequistas.

Dele disse Bento XVI: "sua figura destaca-se no século XVI como modelo de pastor exemplar pela caridade, doutrina, zelo apostólico e sobretudo, pela oração".




domingo, 10 de maio de 2020

JULIANA DE NORWICH E AS REVELAÇÕES DO AMOR DIVINO

Na Inglaterra  nasceram muitas figuras ilustres que, com o seu testemunho e o seu ensinamento, construíram a história da Igreja. 

Como nos diz Bento XVI, uma delas, venerada tanto pela Igreja católica como pela anglicana, é  Juliana de Norwich. As informações de que dispomos sobre a sua vida não são muitas; acredita-se  que viveu aproximadamente entre 1342 e 1430. Foram anos difíceis tanto para a Igreja, dilacerada por questões políticas,  como para a  população que sofria as consequências de uma longa guerra entre a Inglaterra e a França. A imagem ao lado mostra um detalhe da estátua de Juliana que ornamenta a fachada da catedral de Norwich.

Porém, mesmo nos tempos de tribulação, Deus não cessa de nos dar figuras como Juliana de Norwich, para chamar-nos à paz, ao amor e à alegria. Como ela mesma nos narra, no dia 13 de maio de 1373, foi atingida por uma doença gravíssima e repentina, que em três dias deu a impressão de que iria levá-la à morte. 

Depois que um sacerdote, tendo acorrido à sua cabeceira, lhe mostrou o Crucifixo, Juliana não só readquiriu prontamente a saúde, mas teve 16  revelações que  registrou e comentou no seu livro "Revelações do Amor Divino" - consta que esse foi o primeiro livro escrito em língua inglesa por uma mulher

O livro é um excepcional tratado sobre o amor de Deus, onde a autora escreve sobre a Encarnação, a Redenção, a Divina Consolação, bem como sobre o pecado, a penitência e outros aspectos da vida espiritual - é uma  mensagem de otimismo fundada na certeza de sermos amados por Deus e protegidos pela sua Providência, nas palavras de Bento XVI. Um trecho inicial do livro pode ser visto aqui.

Juliana de Norwich compreendeu e registrou a mensagem central para a vida espiritual: Deus é amor, e só quando nos abrirmos, totalmente e com confiança integral, a este amor, e deixarmos que ele se torne o único guia de nossa existência, tudo se mudará, levando-nos a encontrar a verdadeira paz e a autêntica alegria, tornando-nos capazes de difundi-las ao nosso redor. 

Até sua morte, Juliana viveu como uma anacoreta - anacoretas eram pessoas que viviam em retiro e solidão, especialmente nos primórdios do cristianismo, dedicando-se à oração e à escrita de liturgias, a fim de alcançar um estado de graça e pureza de alma pela contemplação.  Vivia em  uma cela, junto à igreja de São Juliano, na cidade de Norwich,   nos arredores de Londres. Não se tem certeza sequer acerca de seu verdadeiro nome - é possível que tenha adotado Juliana em função de sua devoção a São Juliano. 

Sabemos que também Juliana recebia visitas frequentes, como nos é contado na autobiografia de outra cristã fervorosa do seu tempo, Margery Kempe, que foi a Norwich em 1413 para receber sugestões sobre a sua vida espiritual. Eis porque motivo, quando Juliana ainda vivia era chamada, como consta na lápide de seu túmulo: «Mãe Juliana», conforme a foto acima.

É interessante saber que a pequena igreja de São Juliano, que fora construída em 1070, foi destruída em 1942 por uma bomba lançada por um avião nazista. A igreja foi reconstruída, e na parte central da foto aparece a cela de Juliana.





quarta-feira, 6 de maio de 2020

O LAXISMO: UM PERIGO PARA OS CRISTÃOS

Pode-se dizer que uma pessoa é laxista quando tem  a tendência ou atitude  de relaxar ou limitar as interdições estipuladas pela moral cristã. 

O laxismo tem duas causas principais: 

  • o relativismo, situação em que construímos nossas verdades como nos convém, inclusive as verdades religiosas. Vivemos nossa fé  como queremos; ignoramos, diminuímos ou menosprezamos  aquilo que a Igreja ensina e não nos agrada. Pensamos que ela  é atrasada, que   suas regras não se enquadram no nosso tempo. 

  • o secularismo, que é a  exclusão de todo aspecto religioso na vida civil, inclusive impedindo que pessoas religiosas tenham influência na sociedade. Essa corrente prega que nossa Igreja (e todas as outras)  não pode interferir em nenhum assunto que não seja religioso, excluindo-nos da luta e dos debates acerca de temas como
    aborto, eutanásia, moral familiar, política, liberação das drogas etc.

E o problema não é novo: na primeira epístola aos  Tessalonicenses, São Paulo  recomenda-lhes não abandonar o que de Jesus haviam aprendido - tal recomendação era endereçada a cristãos que viviam de forma laxista, de modo particular no que se referia à vida sexual. 

O laxismo é um grande perigo para a sociedade como um todo e para cada um de nós em particular, pois se vivermos de acordo com seus princípios,  estaremos colocando em risco nossa salvação. 



 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

EM 8 DE MAIO FESTEJAMOS NOSSA SENHORA DE LUJAN, A PADROEIRA DA ARGENTINA

Antonio Farías Sáa, um português que vivia no interior da Argentina encomendou a um amigo que vivia em São Paulo uma imagem da Imaculada Conceição, que pretendia colocar em uma capela que estava construindo em sua fazenda. O amigo, enviou duas imagens diferentes, para que Sáa escolhesse uma delas. 

Em maio de 1630, as imagens chegaram de navio ao porto de Buenos Aires. Embaladas em caixões, foram colocadas em uma carreta puxada por bois para serem entregues à fazenda. Após três dias de viagem,  o grupo que transportava as imagens parou para pernoite na estância de Rosendo de Trigueros, num local chamado Zelaya.

No dia seguinte, quando tentavam partir, perceberam que os bois não conseguiam mover a carreta, apesar dos esforços dos carreiros. Resolveram fazer uma experiência e desembarcaram um dos caixões, tendo os bois recomeçado a viagem sem dificuldades. 

Abrindo o caixão que haviam desembarcado, encontraram nele uma pequena imagem (38 centímetros de altura) da Imaculada Conceição, cujo peso não seria motivo para que os bois não conseguissem carregá-la. A imagem ficou então na estância de Trigueiros, em uma pequena capela.

Muitos anos mais tarde, tentaram levá-la para outros lugares, mas a imagem sempre voltava para sua capela original, que acabou dando origem à atual cidade de Lujan, onde em 1763 inaugurou-se uma igreja maior para abrigá-la - em 8 de maio de 1887 o Papa Leão XXIII decidiu coroá-la como Nossa Senhora de Lujan (Nuestra Señora de Luján em castelhano), dando origem à sua festa anual.

A igreja de 1763 foi substituída mais tarde pela atual, construída de pedra, com duas torres de mais de 100 metros de altura que abriga a imagem original da Virgem, vestida com um manto branco e celeste - ela também é chamada Morenita ou Patroncita pelos argentinos.

Em 8 de dezembro de 1930, o Papa Pio XI concedeu à igreja o título de Basílica, que a cada ano recebe em média 9 milhões de visitantes provenientes não apenas da Argentina. Quando era bispo de Buenos Aires, o Papa Francisco costumava ir até lá em peregrinação e permanecia por um longo tempo no Santuário para ouvir confissões.

É interessante o fato de nas paredes do interior da Basílica existirem milhares de placas de pedra ou metal, através das quais os fiéis agradecem a graças recebidas.

Quanto à outra imagem, pequena, com 20 centímetros de altura, representando Maria com o Menino Jesus em seus braços, chegou ao seu destino, a fazenda de Sáa, onde em 1670 se construiu um santuário onde ela é venerada como Nuestra Señora de la Consolación de Sumampa. Essa igreja foi passou por inúmeras reformas no decorrer do tempo, sendo notável o fato de ter sido o único edifício da cidade que resistiu a um forte terremoto em 1817.



sexta-feira, 1 de maio de 2020

SÃO GIUSEPPE MOSCATI - UM MÉDICO QUE VIVEU EM TEMPOS DIFÍCEIS

Giuseppe Moscati nasceu em Benevento, Itália, em 25 de julho de 1880. Foi o sétimo filho de uma família nobre - seu pai era um famoso advogado e juiz. Ainda menino, mudou-se com a família para Nápoles, onde passaria o resto de sua vida. 

Graduou-se em Medicina no ano de 1903, e foi trabalhar no Ospedali degli Incurabili, fundado em 1521, do qual acabou se tornando administrador; nunca deixou de estudar e pesquisar. 

Era uma pessoa muito afável,  apaixonado não só pela medicina mas por vários campos da cultura: arte, natureza, história antiga etc. Extremamente religioso, optou por não se casar, tendo feito voto de castidade.

Era também responsável por um hospital próximo ao Vesúvio, que foi atingido pela erupção do vulcão acontecida em 8 de abril de 1906; de forma heroica, conduziu a evacuação do hospital, retirando os últimos pacientes pouco antes de o prédio desabar.

Teve atuação destacada também durante a epidemia de cólera que assolou Nápoles em 1911. Nesse mesmo ano,  tornou-se membro da Academia Real de Medicina Cirúrgica e recebeu seu doutorado em química fisiológica. Foi também professor, tendo obtido a  Libera Docenzao mais alto título acadêmico da época.

Sua mãe morreu de diabetes em 1914, o que o levou a pesquisar acerca dessa doença, tendo sido um dos pioneiros a  experimentar a insulina no tratamento de diabetes.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Moscati tentou se alistar nas forças armadas, mas foi rejeitado; as autoridades militares achavam que ele poderia servir melhor o país, tratando os feridos em seu hospital; ele próprio atendeu cerca de 3.000 soldados. 

Dedicou-se muito ao cuidado dos pobres. Dizia-se, mesmo antes de sua morte,  que ele podia diagnosticar com precisão as doenças que afetavam um paciente apenas por ouvir uma lista de seus sintomas, e que  realizava curas impossíveis - era conhecido como  "o médico santo".  

Moscati morreu na tarde de 12 de abril de 1927. Ele assistiu à missa naquela manhã, recebeu a comunhão  e passou o resto da manhã no hospital. Ao voltar para casa, atendeu pacientes até por volta de três horas, após o que, sentindo-se cansado, sentou-se em uma poltrona de seu escritório; logo após,  morreu ali. 

Relatos acerca de suas obras continuaram depois de sua morte, com afirmações de que ele havia intercedido em casos impossíveis.

Em função de tudo isso, foi canonizado em 25 de outubro de 1987. Um dos milagres que o levou à  canonização foi o caso de um jovem ferreiro que estava morrendo de leucemia; a mãe do jovem sonhou com um médico vestindo um jaleco branco, que ela identificou como Moscati quando viu uma fotografia - pouco tempo depois, seu filho foi curado e voltou ao trabalho.

Moscati foi o primeiro médico dos tempos modernos a ser canonizado; é lembrado em 16 de novembro.